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quarta-feira, 8 de junho de 2016

PORQUE SOU CONTRA O ENSINO OBRIGATÓRIO DE FILOSOFIA NOS CURSOS DE GRADUAÇÃO


SEÇÃO PERGUNTARAM PARA MIM



Gerson Nei Lemos Schulz
Professor de filosofia no Brasil


E eu respondi...
Quando me perguntaram se eu era contra ou a favor dessa ideia de ensinar filosofia de forma obrigatória no ensino superior (assim como é obrigatório no ensino médio), eu respondi: "sou contra porque penso que só se 'aprende' filosofia fora de um curso de graduação em filosofia se for 'na prática' (se aprende a ser ético sendo ético, se aprende política sendo cidadão, se aprende lógica usando-se o bom-senso). O aporte teórico é importante, mas não me parece fazer sentido se for simplesmente teórico e essa disciplina meramente 'decorativa' na matriz curricular de qualquer curso que seja.

Filosofia, supostamente, é reflexão. Logo, não se pode forçar alguém a pensar. Para pensar, a pessoa deve querer pensar. Além disso, estudar as ideias de Platão, Aristóteles, Agostinho, Descartes, Kant, Nietzsche não é estudar filosofia, muito menos aprender filosofia.

Filosofia é saber dar 'vida' aos textos daqueles autores e, para isso, não basta técnica, é preciso ter experiência de vida e tempo; e os jovens, não porque sejam incapazes de modo geral – embora alguns o sejam por vários motivos, por exemplo, para entender filosofia, assim como outros o são para entender matemática –, mas porque não têm tempo e estão preocupados em ter uma profissão que lhes garanta o pão.

É certo que a filosofia 'pura' no mundo pós-moderno não garante o pão, a não ser para poucos professores de filosofia ou para poucos filósofos profissionais. Mas daí a obrigar alguém a estudar filosofia na universidade – fora do curso de graduação em filosofia onde, suponho, os alunos estejam porque escolheram estudar naquele curso –, vai contra o princípio de qualquer doutrina filosófica que é a liberdade de pensamento.

Assim, não se espantem amigos! Só terá chances reais de saber algo de filosofia quem – sendo de curso alheio à filosofia – escolher cursar alguma disciplina dessa área. Repito: escolher.


Para concluir, é por isso que a universidade só poderá, na
Nietzsche - 1844-1900
melhor das 'boas intenções', ofertar disciplinas optativas de filosofia; destarte, em doses homeopáticas e não como se fosse tratar um 'paciente com câncer terminal' em que o medicamento também pode matar, mesmo que ainda dê um alento a mais de vida, que é o que me parece que acontece quando se despeja – indiscriminadamente – sobre um aluno comum mais de dois mil e quinhentos anos de história da filosofia (e Nietzsche já alertava, desde o final do século XIX, que mesmo as graduações em filosofia na Europa, para ele, não passavam de cursos de história da filosofia), porque se for mesmo assim como alertava Nietzsche, a filosofia se torna qualquer outra coisa, menos filosofia."